sexta-feira, 22 de maio de 2009

História de um amor virtual




- Aquela vista da sacada do apartamento onde agora estava morando, e que tanto o encantou ao chegar, hoje parecia triste. Quase quatro meses se haviam passado. Desde que chegou e viveu momentos de felicidade plena, fizeram com que só hoje seu pensamento se voltasse para tudo o que aconteceu desde que, pela primeira vez, pensou em mudar completamente sua vida. E foi uma mudança radical, abandonou tudo que havia construído durante os dezoito anos no casamento anterior. Veio para uma cidade estranha para ele, começou uma convivência nova com alguém que havia conhecido por meio da telinha e com quem apenas havia tido alguns encontros pessoais durante um curto espaço de tempo. Essa convivência seria posta a prova agora, quando novas ocorrências na mesma internet, iriam provocar novas visões sobre essa mudança.
Pensamentos haviam começado pela manhã, quando a mulher que ele agora considerava sua esposa, disse que havia recebido um e-mail anônimo, contando que ele havia se comunicado com a ex.
-De início não deu muita importância, já que o que havia conversado com ela era apenas uma conversa entre avós sobre netos. É apenas um pouco de ciúme, - pensou-. Mas logo descobriu que essas mensagens anônimas eram freqüentes e faziam muitas acusações contra ele, além de palavras até obscenas para se referirem a sua atual companheira.
Depois disso teve início uma discussão que se estendeu por algum tempo, até que resolveu calar-se e fumar um cigarro enquanto olhava o mar. Com o olhar perdido no horizonte, pensava no que estava acontecendo – a internet havia feito com que conhecesse um novo amor, e agora estava tentando fazer com que se afastasse novamente -.

- É um homem maduro, já entrado na casa dos sessenta, que agora tentava por em ordem os pensamentos. Tentava relembrar como tudo havia começado, o que poderia ter feito de errado, que atitude tomar agora, tudo isso fazia da sua mente um turbilhão. Não conseguia se concentrar no problema que tinha nas mãos nesse momento. Sua mente insistia em trazer lembranças de um passado muito distante, como se quisesse fugir do que o afligia de imediato. Num momento tentava descobrir quem se beneficiaria destruindo seu novo casamento, mas logo em seguida seu pensamento se voltava para seus pais, ambos falecidos. Sua mãe, uma costureira que no final dos anos 50, com suas mãos de dedos finos e longos, suas unhas sempre compridas e pintadas, o que não era muito comum na época, e seu rosto bonito que era muitas vezes comparado com o de uma cantora de sucesso nesse tempo chamada Maysa, havia dado todo o carinho que ele podia querer. Seu pai, um mecânico de automóveis bonachão e brincalhão, que adorava pregar peças nas pessoas e que no seu aniversário de dezoito anos, prestes a ingressar no serviço militar, juntamente com sua mãe, o levou para o quarto do casal e sentados a beira da cama ouviu dizer: - “filho, agora vc está completando a sua maior idade, esperamos poder confiar em vc, como confiamos até agora”- dito isso tirou do bolso um par de chaves, olhou nos seus olhos e disse: “aqui está a chave da casa e a chave daquele jeep que reformamos e eu nunca disse a quem pertencia, ele é seu, só pesso que tenha o cuidado que sempre teve ao dirigir enquanto eu te ensinava.” Os olhos se encheram de lágrimas de felicidade pois naquele tempo, ter carro era um luxo e um sonho distante. Quando pensou que haviam terminado, sua mãe tomou as suas mãos entre as dela e falou: -“eu também tenho algo para você, meu filho” – e o presenteou com uma pequena bolsa, dessas de amarrar na cintura, contendo apetrechos de barba,e o que o deixou vermelho de vergonha, uma carteira de cigarros e um isqueiro dizendo: -“a partir de hoje, embora eu quisesse que você nunca usasse, você pode fumar na nossa frente, sem precisar se esconder, já que você pensava que não sabíamos.-“. Seu pranto aumentou, uma mistura de vergonha e felicidade. Começara a fumar quando uma namorada, conversando com uma colega, sem saber que era ouvida comentou: -“não sei porque, mas adoro ver um homem fumando”-. Aquilo fez com que imediatamente se dirigisse ao balcão da lanchonete em que se encontravam e pedisse uma carteira de cigarros, qualquer cigarro. O atendente ofereceu um cigarro bem conhecido na época, chamado “Continental”. Aceitou, pois era o mesmo que fumava seu pai e saiu com o bolso da camisa estufado, pretendendo fazer uma surpresa para a garota. Assim que sentou, abriu a carteira e educadamente ofereceu para quem estava perto. Ninguém aceitou, então com um sorriso de quem se considerava o máximo, acendeu um e deu sua primeira tragada! Tragédia! Começou a tossir sem parar,sentiu uma dor no peito e o estômago reclamar, sentiu as vistas turvas e só teve tempo de levantar e correr para o reservado, onde deixou tudo o que havia comido anteriormente. Voltou morrendo de vergonha, aceitou as gozações dos amigos, mas prometeu que, já que ela gostava de ver, fumaria custe o que custar. E assim em poucos dias já não conseguia mais ficar sem seu cigarrinho amigo. E agora ali estava, relembrando as coisas que pensava já ter esquecido, muito embora o nome da garota que provocou isso e o abandonou pouco tempo depois, por alguém a quem considerava um amigo.

-Logo seus pensamentos voltaram ao presente, quando a esposa o chamou e iniciou mais uma vez aquele difícil diálogo a respeito dos problemas que essas intromissões estavam causando em suas vidas. Já não bastava esse amor ter começado através de uma telinha de computador de um modo tão inesperado, será que teria um fim desse mesmo modo? Havia se iniciado na rede mundial de computadores depois que comprou seu primeiro, com a intenção de agilizar o serviço de seu escritório, na oficina que havia montado para trabalhar com consertos de veículos importados, já que estavam entrando muitas marcas novas no mercado.
Dali para as redes de relacionamentos que começaram a proliferar, foi um pulo. Em poucas semanas estava cadastrado em vários deles. E em todos, procurava fazer amizades virtuais com mulheres, de preferência. Sempre foi um sujeito tímido e com uma certa dificuldade em se aproximar do sexo oposto. Sempre que isso acontecia, sentia um nó na garganta, as pernas bambas e um tremor quase incontrolável. No computador, ao contrário, sentia-se confiante e bem falante. Sempre tivera facilidade em escrever e ali estava sua oportunidade para exercitar esse lado de sua personalidade.
Veja a continuação em: http://jotatonho.blogspot.com/
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